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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O que será de nós?...

Que delícia ler este post da aluna Camila, da turma de Contábeis... Quantas doces lembranças, quantas importantes reflexões... Você também vai adorar! 
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            Ainda nessa semana, estava eu discutindo com um amigo que mora em São Paulo, sobre qual seria o melhor lugar para se viver. Eu o atacava através do trânsito caótico, do barulho interminável, das pessoas frias, da distância de tudo que havia em nossa capital. Ele, por outro lado, criticava a vida “calma” que nós, caiçaras, tínhamos, e a falta de opções de lazer. A discussão seguia e, então, recebi um golpe inesperado: “Nós temos o Pacaembu e, em breve, teremos o Fielzão! E, então, o que me diz?” Aquilo, sim, era de acabar com qualquer corinthiana roxa como eu, que nunca tivera a oportunidade de ver seu time em campo e gritar gol ali, ao vivo e em cores. Restou-me apenas um último argumento: “Eu tenho o mar.”
            Depois de alguns minutos, surgiu em minha tela a seguinte resposta: “Sorte a sua, tudo o que eu vejo é a sujeira do Rio Tietê”. Sim, a batalha estava ganha. Depois de ostentar meu sorriso por alguns segundos, eu percebi o quão ruim aquilo realmente era. Como seria a minha vida se eu não pudesse ver o mar? Aquele mar onde, por tantas vezes, me perdi em pensamentos, nos momentos de raiva, de angústia, ou na dúvida diante de uma decisão difícil a ser tomada... Aquele mar em que eu aprendi a nadar, onde ficaram tantas gargalhadas de encontros com os amigos, tantos beijos com gosto de sal. E, então, uma ideia me amedrontou: e se o meu mar se tornasse um Tietê? E, para minha tristeza, aquela era uma ideia não tão impossível  quanto eu gostaria que fosse.
            E, então, os pensamentos foram além. Pensei em como me fazia bem ver a lua, e suas “filhinhas”, as estrelas, como eu as costumava chamar quando era criança. Olhar para o céu era quase que uma terapia para os problemas do dia a dia, ver o sol nascendo em variações de amarelo, laranja e rosa, e depois a noite chegar, com o seu azul degradê. 
            Lembrei-me do cajueiro no quintal da casa de vovó, e como eu me sentia grande quando escalava seu tronco, até me sentar no galho mais alto. Lembrei-me do Rio São Francisco, claro e brilhante, que eu fazia questão de visitar todas as vezes que ia à Sergipe, mais precisamente em Canindé do São Francisco, e que, a meu ver, poderia ser a perfeita materialização do conceito de paz.
            Como teria sido a minha vida sem mar, sem lua, sem estrelas, sem sol, sem cajueiro da vovó e sem Rio São Francisco? Acredito que menos feliz do que, de fato, foi.
            E se o rio secar, se o mar se tornar um depósito de lixo? E se um dia, por algum motivo, já não possamos mais observar o esplendor do céu? O que será do pai que ensina o filho a pescar? O que será da alegria das crianças brincando na praia nas manhãs ensolaradas de domingo? Do sabor da fruta fresca tirada do pé? O que servirá de inspiração para os poetas apaixonados quando não houver mais o brilho da lua?
            Não sei ao certo, mas a única coisa que posso afirmar é: a vida perderá a graça.

Rio São Francisco, Sergipe, 2010.

Morro do Voturuá ( ou da Asa delta ), São Vicente, 2010
                                                                  
                      ( Fotos e texto de Camila Meneses, Ciências Contábeis ) 

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